Os quadros apresentados neste blogue são para venda, com excepção dos que estão marcados como colecção particular.
Pode contactar a autora por e-mail.

aborgesgomes@gmail.com


20 novembro 2014

De volta à Rua das Flores!

   Domingo à tarde a ameaçar chuva... Mas a perspectiva de ter que passar a tarde "embrulhada" numa manta bem quentinha a ler ou a ver tv, levou-me a aceitar sem hesitar o desafio de levar um guarda-chuva e ir dar uma "voltinha" à Baixa sempre acompanhada da minha Olympus, companheira de tantas caminhadas!
   O carro ficou ao cimo da Rua do Almada, antigamente conhecida pelas suas inúmeras lojas de ferragens, e hoje uma sombra do que era.   
   O itinerário seria percorrer uma pequena parte da zona histórica do Porto partindo da Praça dos Leões e descer a Rua das Flores e subir até à Rua Mouzinho da Silveira até à rua mais curta do Porto, cerca de 30 metros, em direcção ao Largo dos Lóios e retomar a Rua do Almada.
   Quase sem trânsito e muito poucos transeuntes, ofereceu-me oportunidade de fotografar detalhes e pormenores que de outra maneira me teriam escapado. 
 
Já na Rua José Falcão, onde fui tantas e tantas vezes à Livraria Britânica e que já não existe, uma gaivota esperou para depois "atacar" uns quantos sacos do lixo encostados a um portão e um pouco mais adiante não resisti a fotografar estes E.T.s grafitados no passeio e já meio "desmaiados" pelo tempo.
A Praça Guilherme Gomes Fernandes onde ainda se encontram a Leitaria da Quinta do Paço, dos famosos "éclairs recheados com chantilly" e a Casa Ribeiro, famosa pelos seus biscoitos, que não podiam ser esquecidos quando a família ia para Cabril...
 

 

   E a popularmente chamada Praça dos Leões, aliás Praça de Gomes Teixeira. No seu centro a famosa Fonte dos Leões mesmo em frente ao majestoso edifício onde actualmente funciona a Reitoria da Universidade do Porto; já tinha sido, até 1995, a Faculdade de Ciências do Porto e ainda me recordo de lá funcionar a Faculdade de Economia
Do outro lado, o estabelecimento comercial relevante na Praça é o dos Armazéns Cunhas, ainda em funcionamento.
A Igreja do Carmo fica no cruzamento da Praça de Carlos Alberto e a Rua do Carmo.Geminada fica a Igreja dos Carmelitas ( Descalços). A Igreja pertencia ao extinto convento, hoje ocupado pela Guarda Nacional Republicana. Ambas foram classificadas como Monumentos Nacionais em 2013.


Descendo a Rua dos Clérigos, obtive estas perspectivas da Torre sineira dos Clérigos, da alçada lateral da Igreja dos Clérigos, ainda a finalizar obras de restauro,  e da Enfermaria, que constituem o conjunto arquitectónico barroco mais conhecido do Porto, concebido pelo arquitecto Nicolau Nasoni, cujo túmulo se encontra na Igreja dos Clérigos - o nome tem origem na Irmandade dos Clérigos Pobres, no Século XVIII.
A Torre foi construída em último lugar e bem ao estilo barroco está decorada com esculturas de santos, fogaréus,cornijas e balaustradas. Tem 75 metros de altura e seis andares com escada em espiral, no total de 240 degraus. Pode-se hoje subir à Torre e admirar a magnífica vista lá do cimo, mediante horário e marcação. Ainda lá não fui mas não perdi a esperança ...
   Fui pesquisar um pouco sobre o local onde se encontra este conjunto : a Irmandade teria aceite uma doação de um terreno baldio sito ao cimo de uma calçada que ia da Fonte de Arca até ao Adro dos Enforcados, terreno já fora da antiga Muralha Fernandina onde eram sepultados os sentenciados pela forca e os que não recebiam os sacramentos à morte. A construção da Igreja levou à mudança do Adro para terrenos contíguos ao Hospital de Sto António... trata-se do  chamado Jardim da Cordoaria, onde até há meia dúzia de anos atrás existia a Árvore dos Enforcados, em frente à antiga Cadeia da Relação do Porto.
   Rua dos Clérigos abaixo com destino marcado: descer a Rua das Flores! E fotografar a fachada da Estação de S. Bento... e outras curiosidades que aparecessem...
 
 


   A Rua das Flores era até há bem pouco tempo conhecida pelas suas inúmeras ourivesarias. Inicialmente chamada Rua de Sta Catarina das Flores, foi mandada abrir pelo Rei D. Manuel em 1518 para ligar o Largo de S. Domingos e a Porta de Carros - porta da muralha fernandina situada no cimo da actual Praça de Almeida Garret, em frente da Igreja dos Congregados.
 
O local escolhido estava todo ocupado pelas hortas do Bispo, logo, pertença da Igreja. Talvez daí o nome de Rua de Sta Catarina das Flores, hoje Rua das Flores.As casas construídas ficaram aforadas ao Bispo e ao Cabido. Na fotografia da direita vê-se o símbolo de pertença do Bispo - a Roda de Navalhas de martírio de Sta Catarina. Quanto às pertencentes ao Cabido tinham a figura do Arcanjo S. Miguel. Infelizmente não vi enhuma para fotografar. Nesta rua, à direita de quem desce, encontravam-se muitas lojas de ourives e comerciantes de ouro e jóias da cidade do Porto. Hoje já muito poucas restam.
 Algumas das que foram recuperadas ainda apresentam o antigo esplendor das suas fachadas, embora aproveitadas para outros comércios. Tal é o caso desta que apresento aqui!!!
 Do lado esquerdo predominava outro tipo de comércio : as lojas de panos, que serviam as populações dos arrabaldes- a procura do melhor para os seus dotes em enxovais,cordões de ouro e arrecadas tornaram esta uma das mais importantes ruas do Porto
   Pude apreciar outras coisas que só quem anda por lá tem oportunidade de fotografar! O que me chamou logo a atenção foram as caixas de electricidades decoradas com graffitis.. senão vejam!!!

 


 
      Dois artistas de rua, cada um exibindo talentos diferentes numa rua praticamente deserta...
A  Arte de fazer Bolas de Sabão enormes à italiana !!!( o artista é italiano)
 

 
Ressurgimento do Realejo* pela mão de uma artista de rua francesa cantando na companhia da filha...

 
* Instrumento musical que toca uma música predefinida quando se gira uma manivela.
 
Outras preciosidades...

Um Alfarrabista...                                                                           Brazão da Casa dos Maias "de cara lavada"



 O Museu das Marionetes...                                                                               Uma das várias lojas reaproveitadas...














  Do Largo de S. Domingos, quinhentista, fotografei a Igreja da Misericórdia e a Casa dos Cunhas Pimentéis...


Brasão dos Cunhas Pimentéis

    Não posso deixar passar uma nota de saudade pelo desaparecimento da vetusta Papelaria Fernandes, para dar lugar a um novo hotel englobando todo o edifício.
   O fim da proibição da estadia de nobres dentro da cidade veio contribuir para a abundância de palacetes e casas de comerciantes abastados, a nova burguesia mercantil, nesta zona.
   A regularização das construções e tipo de habitação é bem visível na Rua das Flores, permitindo a visualização das varandas.
  A zona alta da rua era habitada por homens ligados aos diversos ofícios: mecânicos, sapateiros, caldeireiros, serralheiros, pedreiros, ferreiros, etc; fixaram ainda residência nesta rua comerciantes e industriais, barbeiros sangradores, cirurgiões, bem como alguns clérigos e juízes-de-fora.
 
  
   Depois subir a Rua Mousinho da Silveira  e virar na rua mais pequena do Porto, esta!
 Tem cerca de 30 metros e homenageia um Mercador do Século XIV, que pela sua inteligência e sabedoria para os negócios conseguiu fazer um acordo com os Ingleses para os pescadores desta região poderem pescar em águas inglesas, entre outras coisas.
  Assim nasceu a expressão Fino como o alho!





 
Não resisti a fotografar esta extraordinária fonte em arco na Rua Mousinho da Silveira já perto da estação de S. Bento, pelo facto de ter reparado no pormenor da existência de habitações na parte superior da mesma!
A beleza deste conjunto harmonioso de casas recuperadas no Largo dos Lóios!







Depois foi seguir pela Rua do Almada a cima e esta recuperação chamou a minha atenção pela diferença!

    Aproveito para mostrar os meus últimos trabalhos a pastel seco:
 
Francisco (aqui ainda não terminado)
 
            Stormy skies, pastel seco                             

  
 


















 

 

 

 




13 novembro 2014

Magusto no Atelier...

     Chegou o tempo das castanhas assadas... É S. Martinho, este ano sem grande calor que, afinal até não é indispensável para se saborearem umas quantas castanhas assadas e se beber um copinho de jeropiga ou água-pé em boa companhia!!! Para quem não sabe a diferença entre estas duas bebidas caseiras tradicionais portuguesas, a jeropiga é preparada adicionando  aguardente ao mosto da uva para que a fermentação cesse, resultando numa bebida mais doce e de maior graduação alcoólica do que o vinho; quanto à água-pé, resulta da junção de água ao bagaço de uva e aguardente, o que a torna menos alcoólica. O seu consumo é tradicional nos magustos e outras festas tradicionais durante o Outono e o Inverno no Minho, Trás-os-Montes, Beira Interior e Ribatejo.
   O S. Martinho é celebrado no dia 11 de Novembro e tradicionalmente com um magusto... e foi o que aconteceu no Atelier Gonçalves da Silva nesse dia!
 
Pelo meio-dia,foram-se pondo os comes e bebes na mesa improvisada para o efeito e as coisas saborosas foram aparecendo ...
 
   Frango assado no espeto quentinho, lombo asssado e já fatiado, uma saborosíssima Bola de Carne, pão, queijo e fiambre, presunto, um pão-de-ló e um bolo de laranja caseiro,a jeropiga, o vinho tinto e branco e as castanhas vindas do castanheiro...já em doses individuais!
   Que requinte, não acham? 
 
 
  Mas havia que esperar pelo frango e por quem o foi buscar! Enquanto isso os alunos iam conversando e/ou trabalhando um pouco mais... Até a pequenita se mostrou interessada no que estava em cima da mesa!

 
   Falou-se essencialmente do S. Martinho, dos dizeres populares referentes ao dia, de como era antigamente, enfim memórias agradáveis e algumas divertidas...
   Já agora aqui vai a Lenda de S.Martinho:

   Conta-se que certo dia, um soldado romano chamado Martinho, estava a caminho da sua terra natal. O tempo estava muito frio e Martinho encontrou um mendigo cheio de frio que lhe pediu esmola. Martinho rasgou a sua capa em duas e deu uma ao mendigo. De repente o frio parou e o tempo aqueceu.É o chamado Verão de S.Martinho!
   E alguns dos dos provérbios e frases de S. Martinho:
No S. Martinho, vai à adega e prova o teu vinho.
No S. Martinho, castanhas , pão e vinho.
No S. Martinho, fura o pipinho.
No S. Martinho, lume, castanhas e vinho.
No S. Martinho, todoo mosto é bom vinho.

 Tal como tradicionalmente as pessoas colocavam-se à volta da fogueira e iam comendo, assim este grupo tão heterogénio foi rodeando a mesa e petiscando, porque as castanhas seriam servidas no fim... digamos que foi um
magusto-almoço!!!


Depois mais algumas fotografias, desta vez passei o testemunho, se não não ficava em nenhuma foto para a posteridade...



    E a parte mais interessante! Como é que um magustinho como este se tornou num Magusto Cultural??? Apenas com uma viola e algumas mornas de Cabo Verde a pedido e um punhado de canções dos nossos tempos de adolescência... Cantou-se e recordou-se.




    Foram cerca de três horas de são convívio. Bebeu-se vinho, jeropiga  e guaraná ... comeram-se as castanhas e que para o ano que venham mais!!!
   Apenas um pequeno esclarecimento sobre do conteúdo do meu copo: Parece jeropiga mas é apenas guaraná!!!