O que seria apenas um passeio para fotografar corvos marinhos para uso futuro, não passou de uma pequena frustração, isto é, a maré estava tão vasa, tão vasa, que até se viam as pedras que ligam a margem do lado de Vila do Conde às que normalmente se vêm no meio do rio, lugar preferido pelas aves para apanharem sol ou secarem as penas, mesmo de Inverno. Estando na margem sul, olhei para o local do antigo estaleiro onde já fotografara, com a minha máquina mais pequena, por várias vezes corvos marinhos em cima de um dos postes enormes de madeira... Este é o meu testemunho fotográfico!!!
E agora, o que fazer? Voltar para casa nem pensar... e porque não ir visitar uma parte da Zona Histórica de Vila do Conde que eu ainda não tinha visitado... digo isto com um pouquinho de vergonha, mas é a pura verdade. Quando era menina e moça, Vila do Conde era apenas a parte de um trajecto qualquer para o Norte onde a família fazia, por norma em Agosto, picnics, para fugir da avalanche de pessoas que vinham em camionetas com os seus farnéis e rádios de pilhas para ouvir os relatos de futebol e passar o dia na praia em Matosinhos. Enquanto uns rumavam a Sul, nós rumávamos a Norte...para um local com água para os banhos!
Muito mais tarde comecei a frequentar a beira-mar desta cidade para fazer umas caminhadas mais longas e com o belíssimo mar ao lado. E assim lá fui conhecendo a beira-rio e o seu belíssimo casario, fui visitar a Nau e a Alfândega Quinhentistas, hoje museu, a Igreja Matriz, a Câmara e as suas redondezas, tudo fazendo parte da zona histórica desta cidade.
Agora chegou a vez do Convento e Igreja de Sta Clara, com uma situação privilegiada sobre o rio e a cidade.
Não perdi a oportunidade de fotografar esta magnífica vista sobre a Igreja Matriz - Igreja de S. João Baptista, e do Aqueduto de Sta Clara, construído para trazer água de nascente até ao Convento.
Falemos um pouco sobre a Igreja de Sta Clara. Não fiz uma pesquisa exaustiva mas procurei apenas as informações básicas mas essenciais para poder apresentar as minhas fotografias deste Monumento Nacional. Do primitivo convento feminino das Clarissas - religiosas da segunda ordem fundada por S Francisco de Assis (1182-1226) e por Sta Clara de Assis (1194-1226) - fundado em 1319 por D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins de Meneses, sua esposa e senhora desta vila por herança de sua mãe. Do conjunto completo do Mosteiro apenas resta a Igreja de Sta Clara, um belo exemplo do estilo Gótico, estilo este desenvolvido entre os Séculos XII e XV na Europa Ocidental e cuja característica principal é a forma em ogiva das abóbadas e dos arcos.
Tal como se pode ver, a austeridade grandiosa deste monumento lembra exemplos anteriores da arquitectura usada pelas ordens mendicantes do país. O melhor exemplo disso é a fachada ocidental, de frente para a vila, com apenas um único elemento decorativo - a Rosácea Radiante - inserida numa parede compacta e ladeada por dois contrafortes. Note-se também a entrada da igreja no lado norte.
O seu aspecto exterior faz lembrar o de uma fortaleza, janelas muito altas e estreitas, ameias e reforçados contrafortes; mas tudo isto foi necessário para colmatar o desnível do terreno.
O seu aspecto exterior faz lembrar o de uma fortaleza, janelas muito altas e estreitas, ameias e reforçados contrafortes; mas tudo isto foi necessário para colmatar o desnível do terreno.
Fazendo parte integrante deste monumento o Aqueduto de Sta Clara, de estilo românico, com um conjunto de 999 arcos e quatro kms de comprimento, inicialmente foi mandado construir em 1626 para trazer água de uma nascente em Terroso na Póvoa de Varzim até ao Chafariz do Mosteiro. Grande parte deste conjunto ainda se encontra em bom estado de conservação em especial desde o limite de Vila do Conde até ao Mosteiro num total de quinhentos metros. Alguns dos seus arcos foram intencionalmente deitados a baixo no início da década de 30 do Século XX, depois das obras de restauro da Igreja, para que se pudesse ter um melhor visionamento desta. O troço que passa pelo concelho da Póvoa do Varzim ainda não sofreu obras de restauro; daí estar em piores condições. E lá segue desde o Mosteiro a caminho da Póvoa, passando pelo Estádio do Rio Ave até se perder de vista...
Virei então toda a minha atenção para o que eu penso ser o Ex Libris de Vila do Conde: o Edifício Setecentista sobranceiro ao Rio Ave, que resultou das obras de beneficiação realizadas pelas freiras para servirem de dormitórios novos . Depois do decreto de 1834 para a extinção das ordens religiosas, a vida conventual foi-se esvaindo até ao falecimento da última freira em 1892.
Passaram por este edifício, em 1902, a Casa de Detenção e Correcção do Porto, depois o Reformatório de Vila do Conde , bem como a Escola Profissional de Santa Clara e, até 2007, recebeu o Estabelecimento de Tutela de Menores.
Está ao abandono até hoje e são já bem visíveis os traços de degradação deste majestoso edifício.
Brasão e Imagem (talvez) de Sta Clara sobre a Porta
Finalmente algumas imagens da vista magnífica que se desfruta lá de cima sobre a cidade e o rio!!!
Ah...já me ia esquecendo ... não esquecer, desculpem-me a redundância , de reparar numa outra igreja que existe do lado norte do de Sta Clara: o pequeno Convento de S.Francisco, fundado em 1522, e que exibe na parte exterior o Brasão de Armas dos seus instituidores : D. Isabel de Mendenha e D. João de Meneses, com ligações familiares a esta vila. Tem uma só nave e está direccionada para Poente, o portal de acesso localisa-se na fachada Sul e tem características do estilo Manuelino tardio.
Foi cedido por decreto de D. Maria II (1839) à Ordem dos Franciscanos.
No regresso e ao passarem pela ponte reparem numa pequena azenha, também quinhentista, na margem esquerda do RioAve. De traça simples, rectangular e regular é um dos poucos exemplares ainda existentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário