Os quadros apresentados neste blogue são para venda, com excepção dos que estão marcados como colecção particular.
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29 junho 2014

A Ponte da Arrábida...

   Apesar do tempo carregado e a ameaçar chuva e trovoada resolvi voltar a fazer a pé o percurso que abrange A Reserva Natural Local do Estuário do Douro, zona protegida da fauna e flora típicas do estuário do Rio Douro.
   Foi no passado Domingo à tarde, ante-véspera de S. João. Os preparativos decorriam em força, muitas barraquinhas e vendedores ambulantes e, claro, já bastante gente a circular a pé. Mas o meu destino era exactamente observar esta zona protegida e ir até à Madalena.
    A Reserva Natural Local do Estuário do Douro encontra-se bem vedada ao acesso do público e com dois passadiços, que conduzem a duas pequenas construções de madeira  com aberturas   que facilitam a observação e a fotografia das diversas aves que fazem dos pequenos braços de rio o seu destino migratório e permanente. No meu caso não tive muita sorte pois vi apenas gaivotas, as aves predominantes nesta época do ano. Não me importei pois tirei fotografias ao que achei interessante e diferente.
   Estas foram tiradas de dentro da primeira barraquinha: A Ponte da Arrábida, um grupo de gaivotas tomando banho num pequeno braço do rio, a que se veio juntar uma outra, um barco abandonado(???) no meio da vegetação predominante nesta zona e que penso ser autóctone e uma panorâmica sobre a duna já em formação no Canidelo e  a língua de areia que agora é designada como praia. Aqui deixo esta formação rochosa que achei muito interessante na fronteira entre a zona protegida e a zona da praia do Cabedelo. Deste lado, as formações rochosas são arredondadas e muito diferentes das que bordejam a costa norte...



   Depois virei a minha atenção para o esporão construído para evitar o assoreamento do Rio Douro e que só tinha visionado de lado do Porto. E eis o resultado! Na primeira até se vê o Titã (guindaste especial usado na construção do Porto de Leixões existindo um outro do lado de Leça da Palmeira) bem como a estrutura branca,que lembra a proa de um paquete de luxo, do lado direito da foto; será o local de atracagem de paquetes de luxo.
As fotos que se seguem mostram a entrada do Rio Douro  com a zona ribeirinha como pano de fundo.    
 
Ainda são visíveis as marcas deste último inverno na costa do Canidelo...

 Já a caminho da Praia da Madalena, não resisti a fotografar estes afloramentos rochosos típicos desta orla marítima e como sempre lá estão as gaivotas nos seus postos de observação!






 Não resisti a fotografar os líquenes ressequidos de uma dessas rochas junto ao passeio por onde seguia...
 
Outra perspectiva da Ponte da Arrábida, tirada já no regresso e já sob ameaça de trovoada e chuva, o que se concretizou.

 
    A propósito da Ponte da Arrábida, sempre que olho para este Monumento Nacional me recordo do dia da sua inauguração - 22 de Julho de 1963. A minha família foi de traineira até ao local, para em conjunto com muitas outras embarcações de todos os tipos buzinarem em uníssono como era costume para festejar. Estava preparada uma sardinhada a bordo da traineira para o trajecto e durante o tempo de espera, mas a saída da barra de Leixões era mais agitada do que actualmente e as traineiras pareciam mergulhar e ressurgir à tona das águas. Eu já tinha experimentado andar de traineira numa das do meu avô, o Mestre Borges, de Vila Real de Sto António, por isso tomei o meu lugar bem na proa da traineira com o meu irmão Paulo,com quase 13 anos na altura, enquanto a maioria dos restantes "mareantes" ficou enjoada com o movimento do barco. O que para mim, jovem de 14 anos, foi muito emocionante foi um pesadelo para os outros. Recordo que poucos foram os que poderam saborear convenientemente as sardinhas...
   Simultaneamente as entidades da época inauguraram os primeiros 10 kms da futura auto-estrada Porto-Lisboa, entre os Carvalhos e a Ponte da Ponte da Arrábida, esta  obra do Engenheiro Edgar Cardoso, com o maior vão do mundo, um arco de betão de 270 metros; à época muitos estavam cépticos quanto à colocação do última parte que iria ligar as duas margens do rio.
   Mas ela cá está para ser apreciada em toda o seu esplendor! Para mim é ainda a mais bela das pontes que atravessam o Rio Douro!!!
 



   

06 junho 2014

Convento de Sta Clara-Vila do Conde

   O que seria apenas um passeio para fotografar corvos marinhos para uso futuro, não passou de uma pequena frustração, isto é, a maré estava tão vasa, tão vasa, que até se viam as pedras que ligam a margem do lado de Vila do Conde às que normalmente se vêm no meio do rio, lugar preferido pelas aves para apanharem sol ou secarem as penas, mesmo de Inverno. Estando na margem sul, olhei para o local do antigo estaleiro onde já fotografara, com a minha máquina mais pequena, por várias vezes corvos marinhos em cima de um dos postes enormes de madeira... Este é o meu testemunho fotográfico!!!


    E agora, o que fazer? Voltar para casa nem pensar... e porque não ir visitar uma parte da Zona Histórica de Vila do Conde que eu ainda não tinha visitado... digo isto com um pouquinho de vergonha, mas é a pura verdade. Quando era menina e moça, Vila do Conde era apenas a parte de um trajecto qualquer para o Norte onde a família fazia, por norma em Agosto, picnics, para fugir da avalanche de pessoas que vinham em camionetas com os seus farnéis e rádios de pilhas para ouvir os relatos de futebol e passar o dia na praia em Matosinhos. Enquanto uns rumavam a Sul, nós rumávamos a Norte...para um local com água para os banhos!
  Muito mais tarde comecei a frequentar a beira-mar desta cidade para fazer umas caminhadas mais longas e com o belíssimo mar ao lado. E assim lá fui conhecendo a beira-rio e  o seu belíssimo casario, fui visitar a Nau e a Alfândega Quinhentistas, hoje museu, a Igreja Matriz, a Câmara e as suas redondezas, tudo fazendo parte da zona histórica desta cidade.
   Agora chegou a vez do Convento e Igreja de Sta Clara, com uma situação privilegiada sobre o rio e a cidade.
  Não perdi a oportunidade de fotografar esta magnífica vista sobre a Igreja Matriz - Igreja de S. João Baptista, e do Aqueduto de Sta Clara, construído para trazer água de nascente até ao Convento.
 

   Falemos um pouco sobre a Igreja de Sta Clara. Não fiz uma pesquisa exaustiva mas procurei apenas as informações básicas mas essenciais para poder apresentar as minhas fotografias deste  Monumento Nacional.  Do primitivo convento feminino das Clarissas - religiosas da segunda ordem fundada por S Francisco de Assis (1182-1226) e por Sta Clara de Assis (1194-1226) - fundado em 1319 por D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins de Meneses, sua esposa e senhora desta vila por herança de sua mãe. Do conjunto completo do Mosteiro apenas resta a Igreja de Sta Clara, um belo exemplo do estilo Gótico, estilo este desenvolvido entre os Séculos XII e XV na Europa Ocidental e cuja característica principal é a forma em ogiva das abóbadas e dos arcos.

         
 Tal como se pode ver, a austeridade grandiosa deste monumento lembra exemplos anteriores da arquitectura usada pelas ordens mendicantes do país. O melhor exemplo disso é a fachada ocidental, de frente para a vila, com apenas um único elemento decorativo - a Rosácea Radiante - inserida numa parede compacta e ladeada por dois contrafortes. Note-se também a entrada da igreja no lado norte.
   O seu aspecto exterior faz lembrar o de uma fortaleza, janelas muito altas e estreitas, ameias e reforçados contrafortes; mas tudo isto foi necessário para colmatar o desnível do terreno.

 Fazendo parte integrante deste monumento o Aqueduto de Sta Clara, de estilo românico, com um conjunto de 999 arcos e quatro kms de comprimento, inicialmente foi mandado construir em 1626 para trazer água de uma nascente em Terroso na Póvoa de Varzim até ao Chafariz do Mosteiro. Grande parte deste conjunto ainda se encontra em bom estado de conservação em especial desde o limite de Vila do Conde até ao Mosteiro num total de quinhentos metros. Alguns dos seus arcos foram intencionalmente deitados a baixo no início da década de 30 do Século XX, depois das obras de restauro da Igreja, para que se pudesse ter um  melhor visionamento desta. O troço que passa pelo concelho da Póvoa do Varzim ainda não sofreu obras de restauro; daí estar em piores condições.  E lá segue desde o Mosteiro a caminho da Póvoa, passando pelo Estádio do Rio Ave até se perder de vista...



    Virei então toda a minha atenção para o que eu penso ser o Ex Libris de Vila do Conde: o Edifício Setecentista sobranceiro ao Rio Ave, que resultou das obras de beneficiação realizadas pelas freiras para servirem de dormitórios novos . Depois do decreto de 1834 para a extinção das ordens religiosas, a vida conventual foi-se esvaindo até ao falecimento da última freira em 1892.
    Passaram por este edifício, em 1902, a Casa de Detenção e Correcção do Porto, depois o Reformatório de Vila do Conde , bem como a Escola Profissional de Santa Clara e, até 2007, recebeu o Estabelecimento de Tutela de Menores.
   Está ao abandono até hoje e são já bem visíveis os traços de degradação deste majestoso edifício.



 Brasão e Imagem (talvez) de Sta Clara sobre a Porta
 
 




 
  
   Finalmente algumas imagens da vista magnífica que se desfruta lá de cima sobre a cidade e o rio!!!


Ah...já me ia esquecendo ... não esquecer, desculpem-me a redundância , de reparar numa outra igreja que existe do lado norte do de Sta Clara: o pequeno Convento de S.Francisco, fundado em 1522, e que exibe na parte exterior o Brasão de Armas dos seus instituidores : D. Isabel de Mendenha e D. João de Meneses, com ligações familiares a esta vila. Tem uma só nave e está direccionada para Poente, o portal de acesso localisa-se na  fachada Sul e tem características do estilo Manuelino tardio.
   Foi cedido por decreto de D. Maria II (1839) à Ordem dos Franciscanos.


   No regresso e ao passarem pela ponte reparem numa pequena azenha, também quinhentista, na margem esquerda do RioAve. De traça simples, rectangular e regular é um dos poucos exemplares ainda existentes.




 



 

05 junho 2014

O meu modelo!

   E assim nasce uma "estrela"! Foi o que aconteceu ao meu poldro favorito, rebelde mas que responde sempre à minha voz. Já tinha mencionado antes que já se encontra separado dos outros por se comportar de um modo mais agressivo. Mas eu acho-o um belo exemplar e, como tal, escolhi-o para modelo do meu mais recente trabalho!

   Relembrando o seu desenvolvimento desde que nasceu em Abril de 2011, apresento uma fotografia de cada ano que passou... Nasceu acastanhado mas já cedo começou a explorar à sua volta; já com predominância de tom claro, mesclado de cinzentos e uns acastanhados claros, já dava uma ideia do tom predominante. Em Maio de 2013, já integrado no grupo dos jovens...
Abril de 2011
Março de 2012
  
Maio de 2013
Maio de 2014

   E 2014 tem vindo a acentuar as características que farão deste poldro esbranquiçado um belo cavalo adulto. Foi exactamente esta fotografia que escolhi para servir de modelo ao meu mais recente trabalho a Pastel Seco, aqui apresentado ainda sem moldura, que terminei ontem dia 4 de Junho. Aqui fica o resultado!!!
Equine Beauty, soft pastel,2014

   Termino hoje com uma notazinha a respeito da poldra que está comigo na fotografia deste meu blogue. Vou ter muitas saudades dela pois era sempre a primeira a vir ter comigo e a encostar a cabeça para nos cumprimentarmos... O seu nome verdadeiro é Fly e esta foi a última fotografia que tirei na passada segunda-feira antes de partir... Parecia que sabia que algo ia acontecer; aliás todas estiveram sempre nesta parte de baixo do campo longe da entrada da propriedade.
 Vou ter muitas saudades tuas "garraninha"... foram quase 3 anos de boa companhia e espero que voltes até cá um dia.











01 junho 2014

Os murais de azulejos da Póvoa do Vazim



Há já algum tempo que não ia caminhar pelas Caxinas até ao porto da Póvoa do Varzim mas lembrei-me de ter visto uns painéis de azulejos sobre o núcleo piscatório local e história  da evolução da cidade desde os finais do Século XIX , princípios do Século XX e resolvi ir tirar umas fotografias.
   Embora com bastante vento mas sol, lá fui caminhar pela Avenida junto ao mar até os encontrar. Como era dia de eleições, andava pouca gente ainda e por isso pude apreciar e fotografar os painéis de azulejos calmamente. O que me chamou logo a atenção foram os símbolos  representados em cada painel. Confesso que achei curioso e pensei logo nas  Runas e nos Vikings... Sabe-se que navegaram por estas bandas do nosso país e, na verdade, ainda se vê muita gente da classe piscatória com características que parece demonstrá-lo: cabelos loiros ou ruivos, olhos azuis, estatura robusta... e bravura quanto basta.
   Como sempre não pude deixar de fotografar o mar... aqui o Cruzeiro na maré baixa e do outro lado da rua uma lojinha de nome sui generis!
  
E aqui estão os painéis de ajulejos perto do porto de pesca, que falam por si!
 
A Vila da Póvoa do Varzim nos fins do Século XIX princípios do Século XX.
 


 



 
    E as suas gentes da classe piscatória conhecidas por Poveiros... Bem, sendo eu de Matosinhos, o termo Poveiro/a é-me muito familiar e, na realidade, formavam um grupo distinto dos outros pescadores, tal como as Nazarenas com as suas 7 saias!!! Eu ficava abismada a olhar para a cadência das suas saias devido ao seu modo típico de andar! Mas outros factos precisei de procurar saber mais, porque eu gosto de História e a minha curiosidade não tem limites.
    Ora, sem nenhumas referências especiais, lá fui tentar saber o que mais me tinha intrigado: os símbolos que eu pensei serem Runas... Não encontrei muito na Wikipédia mas o suficiente para esclarecer a minha curiosidade! Existe um conjunto de Siglas ou Marcas Poveiras utilizadas pelos pescadores na zona que compreende a Póvoa do Varzim, as Caxinas e Vila do Conde, que serviam de escrita e de identificação dos pertences de cada família.  Funcionavam como uma espécie de Brasão e era passado e ainda o é hoje ao filho mais novo, o que poderia tomar conta dos pais idosos e a quem o comando do barco era entregue pelo pai, tal como na Bretanha e na Dinamarca. Isto é curioso, pois na sociedade rural medieval o título era herdado pelo filho varão, o mais velho...

Na verdade, têm origem nórdica trazidas pelos colonos vikings que por estas terras aportaram mas foram adaptadas à sua realidade.
   Estes são os dois tipos de embarcação típicamente poveiras: o Lanchão com  uma enorme vela e o Sardinheiro. O primeiro de características para ser usado na pesca no mar alto e pertenciam à classe mais alta entre os pescadores. Os segundos eram para a pesca junto à costa e pertenciam à classe mais baixa e menos abastada. É visível a sigla da família a quem o barco pertence  e o nome do santo protector escolhido.
 
   Algumas cenas da vida desta gente estão representadas nestes murais. Assim, a saída para o mar de um Sardinheiro sempre perigosa, pois ainda hoje a saída da barra da Póvoa do Varzim continua a ser das mais perigosas da nossa costa. Também está representado o chamamento Ala-Riba, pelas respectivas companhas (conjunto de homens em cada barco) para ajudar a trazer o barco para terra.
 
                  
    Estes pescadores, aliás como quaisquer outros, alternavam tempos de abundância com tempos de pobreza, especialmente no Inverno, por não poderem ir ao mar... A Lota foi e ainda é o local da venda do pescado trazido nos barcos. Antigamente eram as mulheres dos pescadores que faziam o negócio para depois ir vender o peixe pela vila.
                        


   Estes painéis que se seguem representam cenas do quotidiano desta comunidade. Enquanto preparam os materiais para ir ao mar, os pescadores conversam. Este painel chama-se Conversa no Fieiro. O do lado mostra a tarefa de remendar as redes depois de cada ida  ao mar pelas mulheres.  
 
                                  Representação dos Trajes de Festa e dos Trajes de Luto      
 
Este belo painel chama-se Espera. Representa a ansiedade das mulheres dos pescadores cada vez que estes se faziam ao mar. O painel à direita chama-se exactamente Regresso.
 
Representação da Tragédia marítima que foi o Naufrágio de 27 de Fevereiro de 1892.


 

 


    Não podiam faltar os bravos Lobos do Mar, heróis locais.
 
José Rodrigues Maio, mais conhecido por O Cego do Maio ou Ti Maio. Pescador e salva-vidas foi condecorado pelo Rei D. Luís I com o Colar de Cavaleiro de S.Tiago da Torre e Espada. Também recebeu a Medalha de Ouro da Real Sociedade Humanitária do Porto. Nasceu e faleceu na Póvoa do Varzim.
 
   João Martins Areias, o Patrão Sérgio,(24/01/1846 - 14/04/1911).Durante a sua vida como pescador e patrão do salva-vidas, herança de seu pai, fez o resgate e salvamento de mais de uma centena de vidas.
Manuel António Ferreira, o Patrão Lagoa (14/06/1866-07/07/1919). Pescador e Patrão do Salva-vidas. Participou no salvamento de náufragos do cruzador português São Raphael, bem como no de passageiros e tripulantes do paquete inglês Veronese naufragado perto da Capela da Boa Nova em Leça da Palmeira em 1913.
 
Quanto ao Patrão "Cavalheira" (- 1970) não me foi possível encontrar quaisquer dados de relevo...


O Mural também homenagea algumas personalidades nascidas nesta cidade:

 
   Assim termino esta incursão pelos meandros da história desta cidade, afinal tão antiga, mas com um carácter muito próprio preservado ainda nas tradições da sua classe piscatória.