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01 junho 2014

Os murais de azulejos da Póvoa do Vazim



Há já algum tempo que não ia caminhar pelas Caxinas até ao porto da Póvoa do Varzim mas lembrei-me de ter visto uns painéis de azulejos sobre o núcleo piscatório local e história  da evolução da cidade desde os finais do Século XIX , princípios do Século XX e resolvi ir tirar umas fotografias.
   Embora com bastante vento mas sol, lá fui caminhar pela Avenida junto ao mar até os encontrar. Como era dia de eleições, andava pouca gente ainda e por isso pude apreciar e fotografar os painéis de azulejos calmamente. O que me chamou logo a atenção foram os símbolos  representados em cada painel. Confesso que achei curioso e pensei logo nas  Runas e nos Vikings... Sabe-se que navegaram por estas bandas do nosso país e, na verdade, ainda se vê muita gente da classe piscatória com características que parece demonstrá-lo: cabelos loiros ou ruivos, olhos azuis, estatura robusta... e bravura quanto basta.
   Como sempre não pude deixar de fotografar o mar... aqui o Cruzeiro na maré baixa e do outro lado da rua uma lojinha de nome sui generis!
  
E aqui estão os painéis de ajulejos perto do porto de pesca, que falam por si!
 
A Vila da Póvoa do Varzim nos fins do Século XIX princípios do Século XX.
 


 



 
    E as suas gentes da classe piscatória conhecidas por Poveiros... Bem, sendo eu de Matosinhos, o termo Poveiro/a é-me muito familiar e, na realidade, formavam um grupo distinto dos outros pescadores, tal como as Nazarenas com as suas 7 saias!!! Eu ficava abismada a olhar para a cadência das suas saias devido ao seu modo típico de andar! Mas outros factos precisei de procurar saber mais, porque eu gosto de História e a minha curiosidade não tem limites.
    Ora, sem nenhumas referências especiais, lá fui tentar saber o que mais me tinha intrigado: os símbolos que eu pensei serem Runas... Não encontrei muito na Wikipédia mas o suficiente para esclarecer a minha curiosidade! Existe um conjunto de Siglas ou Marcas Poveiras utilizadas pelos pescadores na zona que compreende a Póvoa do Varzim, as Caxinas e Vila do Conde, que serviam de escrita e de identificação dos pertences de cada família.  Funcionavam como uma espécie de Brasão e era passado e ainda o é hoje ao filho mais novo, o que poderia tomar conta dos pais idosos e a quem o comando do barco era entregue pelo pai, tal como na Bretanha e na Dinamarca. Isto é curioso, pois na sociedade rural medieval o título era herdado pelo filho varão, o mais velho...

Na verdade, têm origem nórdica trazidas pelos colonos vikings que por estas terras aportaram mas foram adaptadas à sua realidade.
   Estes são os dois tipos de embarcação típicamente poveiras: o Lanchão com  uma enorme vela e o Sardinheiro. O primeiro de características para ser usado na pesca no mar alto e pertenciam à classe mais alta entre os pescadores. Os segundos eram para a pesca junto à costa e pertenciam à classe mais baixa e menos abastada. É visível a sigla da família a quem o barco pertence  e o nome do santo protector escolhido.
 
   Algumas cenas da vida desta gente estão representadas nestes murais. Assim, a saída para o mar de um Sardinheiro sempre perigosa, pois ainda hoje a saída da barra da Póvoa do Varzim continua a ser das mais perigosas da nossa costa. Também está representado o chamamento Ala-Riba, pelas respectivas companhas (conjunto de homens em cada barco) para ajudar a trazer o barco para terra.
 
                  
    Estes pescadores, aliás como quaisquer outros, alternavam tempos de abundância com tempos de pobreza, especialmente no Inverno, por não poderem ir ao mar... A Lota foi e ainda é o local da venda do pescado trazido nos barcos. Antigamente eram as mulheres dos pescadores que faziam o negócio para depois ir vender o peixe pela vila.
                        


   Estes painéis que se seguem representam cenas do quotidiano desta comunidade. Enquanto preparam os materiais para ir ao mar, os pescadores conversam. Este painel chama-se Conversa no Fieiro. O do lado mostra a tarefa de remendar as redes depois de cada ida  ao mar pelas mulheres.  
 
                                  Representação dos Trajes de Festa e dos Trajes de Luto      
 
Este belo painel chama-se Espera. Representa a ansiedade das mulheres dos pescadores cada vez que estes se faziam ao mar. O painel à direita chama-se exactamente Regresso.
 
Representação da Tragédia marítima que foi o Naufrágio de 27 de Fevereiro de 1892.


 

 


    Não podiam faltar os bravos Lobos do Mar, heróis locais.
 
José Rodrigues Maio, mais conhecido por O Cego do Maio ou Ti Maio. Pescador e salva-vidas foi condecorado pelo Rei D. Luís I com o Colar de Cavaleiro de S.Tiago da Torre e Espada. Também recebeu a Medalha de Ouro da Real Sociedade Humanitária do Porto. Nasceu e faleceu na Póvoa do Varzim.
 
   João Martins Areias, o Patrão Sérgio,(24/01/1846 - 14/04/1911).Durante a sua vida como pescador e patrão do salva-vidas, herança de seu pai, fez o resgate e salvamento de mais de uma centena de vidas.
Manuel António Ferreira, o Patrão Lagoa (14/06/1866-07/07/1919). Pescador e Patrão do Salva-vidas. Participou no salvamento de náufragos do cruzador português São Raphael, bem como no de passageiros e tripulantes do paquete inglês Veronese naufragado perto da Capela da Boa Nova em Leça da Palmeira em 1913.
 
Quanto ao Patrão "Cavalheira" (- 1970) não me foi possível encontrar quaisquer dados de relevo...


O Mural também homenagea algumas personalidades nascidas nesta cidade:

 
   Assim termino esta incursão pelos meandros da história desta cidade, afinal tão antiga, mas com um carácter muito próprio preservado ainda nas tradições da sua classe piscatória.

  


 










 







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